25/03/12

Breaking the Walls ❀

Ou o azar me persegue ou eu vou atrás dele. Num dia em que decidi tratar de várias coisas numa manhã ( o que é difícil mas não impossível em Luanda ) -fui às obras públicas tratar do documento do carro, para seguir para uma outra entrevista e depois entrega de trabalhos em atraso em talatona - eis que para além de um carro impedindo-me a saída, o pára-choques do carro ( aquele ferrinho que fica a frente que não permite que a chaparia do carro se danifique) caiu... Caiu, simplesmente caíu. Tive que andar calmamente, sem saber onde se encontraria um mecânico mais próximo. Perguntei e nada. Não havia. 
Mais de 15 minutos à espera que algo milagroso acontecesse, e não é que vem um grupo de jovens oferecer-me ajuda e encaminhado-me para um mecânico de rua que pudesse resolver-me o assunto. 
30 minutos, e ficou pronto. Já estava atrasada para a entrevista pelo menos 45 minutos. Cheguei e vi que me encaminharam alguns trabalhos, mas contrato que é bom.. Nada!
Após o almoço em Talatona, no regresso a cidade pela estrada do Rocha Pinto, reparo nos muros que me acompanham durante o percurso. Aproximadamente 6km de muro, que separam a "civilização" do musseque. É notório o contraste de carros que transitam naquela via e todo um contexto de uma tribo urbana de pobreza extrema. 
Deixei-me distrair pela música que tocava no meu iPod e os meus pensamentos evaporaram como álcool evapora. 
Cheguei a casa do meu pai, peguei no meu maço de cigarro e fui para a varanda desfrutar da vista e do cigarro. A vista que outrora me penetrara, que tornava um momento quase infinito, se fora. É triste quando nos deparamos com a deterioração de uma cidade como Luanda - sem identidade!
Virei as costas para os arranha-céus que subiram pela baixa e concentrei o meu olhar para o oposto... Para o Miramar, um pouco mais a leste, para o Porto de Luanda e um pouco mais além. Mais além do Porto está  Cacuaco. Já lá estive na minha infância, tenho plena consciência disso, não me recordo do caminho percorrido, do estado da estrada ou do que rodeia. Na verdade, a minha mente construiu uma fronteira invisível para além do Porto. Quem sabe o que existe para além do Porto? Eu não sei ao certo. Só sei que se alguém me disser que vive por lá, eu acharei bem longe - mesmo que a distância seja a mesma entre o centro da cidade e Talatona - Mas sim é longe. Cacuaco fica para lá da fronteira da "civilização" assim como o Zango fica, Viana e Sambizanga. 
É triste eu ter de admitir isso... Eu não possuo "visto" de entrada para aquele "país". Ou simplesmente não quero possuir esse "visto". A igualdade não existe. Géneros, Raça, estrato... Infelizmente é utopia essa tal coisa de igualdade... 

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