Meti-me no carro... só sei que devo ter caído em todos os buracos que me apareciam à frente pela cidade de Luanda a fim de chegar a tempo para a entrevista. Não que tenha sido o caso de me atrasar, o que não seria espantoso... simplesmente porque ouvi na rádio que o trânsito caótico instalara-se exactamente no caminho que ia fazer, e que na minha cabeça seria o inverso e porque um senhor contentor resolveu cair mesmo na única via ( sem vias alternativas) ao meu destino.
Levei o meu chá numa caneca térmica - chá de laranja - que a A me tinha sugerido. Diz que dá sorte.
Cheguei ao tal suposto futuro emprego, ou não, com um ar um pouco desarrumado, sem contar o stress que tive quando ia a caminho... 7minutos parada, um segundo a andar e assim por diante.
A secretária mandou preencher um formulário de entrada, pois pertencia ao estado, até que finalmente o senhor Zé atendeu-me, super descontraído com um sorriso que pedia uns implantes urgentes nas laterais, uma indumentária para lá do profissional. Acolheu-me na sua maxi sala e encheu-me de perguntas tanto de natureza profissional como de pessoal.
Senti que queria me conhecer a fundo em uma hora de entrevista, talvez para saber se o meu perfil se encaixaria numa equipa extremamente dinâmica.
Eis que ao despedir-me, entrega-me um post it amarelo, rabiscado a lápis o ordenado que estava disposto a oferecer-me caso quisesse pertencer a equipa e mais trabalhos extras de secretária para lá de executiva.
Apercebi-me que as acompanhantes de luxo - nome educado que se dá às putas finas em Angola - recebem um ordenado bastante generoso, fora o ordenado que lhe é garantido pelo emprego enquanto empresa inscrita na fiscalização. Talking about my cup of tea... este é de certo o lugar mais errado onde pude estar em toda a minha vida. Agora digam-me: aceito o emprego, ou deixo-o voar pela janela afora diante do dito post it amarelo?